domingo, 26 de dezembro de 2010

Poema das Mortes

São muitas mortes embutidas
Nas dobras de nossas vidas:
As metas inatingidas,
As amizades desfeitas,
As injustiças, as rejeições,
As incompreensões das mentes estreitas,
As tantas desatenções.
Existe morte, inclusive, na ilusão passageira!
São mortes muitas, antes da derradeira
Morre-se no desamar
E na dor do semelhante.
Morre-se a cada instante
Até mesmo de mal de amor.
Há morte no desencanto,
Quando seca o pranto
E o coração embrutece.
Ouso dizer!
A morte a teia tece
Naquilo que acontece
Ou deixa de acontecer.
A morte, enfim, traz consigo a desfaçatez:
Mil vezes a gente morre
Antes de morrer de vez.

(Lucia Moraes)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Estação

Me contaram que você partiu para uma viagem.
E seu  trem que não mais retornaria à estação de onde  saiu.
Você se calou. 
Emudeci também.
As dúvidas suspensas no ar. 
Difícil acreditar no que eu jamais acreditaria.
Era madrugada. 
Estava escuro. 
Ficou escuro. 
Nuvens carregadas pairavam sobre minha cabeça 
Bloqueavam a claridade,
Obscureciam minha visão, antes tão colorida.

Nada parece justo 
Quando vemos nossos sonhos escapando de nós, 
Sem termos tempo de dizer adeus.
Impotentes.
Mas não descrentes da vida.

Doces lágrimas compartilhadas
Nessa estação que não pertence a ninguém.

(Danillo Barros)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Arquivos




Certa vez, quando era pequeno, resolvi fazer uma espécie de “mapa” do meu cérebro. Para mim, a mente era como um grande arquivo, cheio de gavetas abarrotadas de papéis contendo muitas e muitas informações. Na época, resolvi separar essa papelada em seções, organizadas de acordo com as atividades que eu precisava realizar (mas as tarefas infantis eram simples: fazer o dever de casa, jogar videogame, arrumar o quarto de vez em quando, jogar bola com os amigos). Dificuldade alguma, não é mesmo?

Hoje percebo que as coisas não são tão simples e que a nossa mente não pode ser tão facilmente organizada (só enquanto bato este texto no computador, mil pensamentos pululam na minha cabeça!). Quem dera ainda ter um olhar infantil sobre o mundo, acreditar em tudo que me diziam e não saber de nada... Infelizmente, não é assim que acontece. À medida que fico mais velho (tudo bem, “velho” é hipérbole), aumentam minhas experiências, sonhos e idéias malucas. E aquelas poucas folhas escritas (a maioria ainda em branco) vão se transformando em tantas que, quando olho, nem sei mais em que gaveta enfiar. Preciso de tempo e de paciência para pôr tudo no seu devido lugar, organizar meus pensamentos...

Colocar no lugar? Mas pra quê? Não vai ter ninguém vendo mesmo... Entretanto, talvez seja bom dar uma revisada em tanta informação, analisar os pontos positivos e negativos da minha vida.

Começo, então, a remexer nas minhas gavetas (as que consigo alcançar, pois algumas devem estar tão inacessíveis que apenas meu inconsciente será capaz de atingir). Vou abrindo-as, vou revivendo minha história, apenas minha, única, pois sei que ninguém é capaz de viver por mim, de controlar minha imaginação, de falar por mim! Eis que, conforme avanço nas profundezas do meu cérebro, lembro de que nem tudo são flores. Abri gavetas que não gostaria de ter aberto; outras, tento, em vão, fechar. Algumas eu nem recordava que estavam lá e, caramba... uma surpresa agradável, uma lembrança boa!

Talvez eu precise da ajuda de meus amigos ou de minha família para abrir, fechar ou procurar determinadas gavetas. De qualquer forma, é sempre bom ter alguém com quem se possa contar. Apesar de saber que sou o protagonista da minha vida, não posso construí-la sozinho.

Minha mente fervilha de pensamentos. Como já disse, não é fácil pôr tudo em ordem. Às vezes, o momento pelo qual passo parece formar um furacão que tenta acabar com qualquer possibilidade de organizar meu arquivo. Tantos papéis espalhados, uma confusão...

Como dizem, “após a tempestade vem a bonança”. Tenho mais uma oportunidade de colocar minhas idéias no lugar. Não vou reclamar de ter todo esse trabalho de novo. Pensando bem, que graça teria minha vida se tudo fosse uma utopia, se meus arquivos estivessem sempre em ordem? Que lugar teriam as emoções na minha alma? O que me ajudaria a crescer, a tornar-me mais forte, a sorrir quando os outros sentem prazer em assistir minha lamentação?

Minhas preocupações de criança já se foram, minha jornada sem volta para o mundo real já começou. O que fazer então? Agradeço a Deus pela oportunidade de continuar. Melhor se arriscar na aventura do viver do que ver meu corpo num caixão sendo devorado pelos vermes da terra. Que bom que bagunço minhas gavetas! Que bom ter a chance de rever tudo pelo que já passei, de procurar aprender com meus erros, de me descobrir, de inventar maneiras de ser mais feliz, enfim... de não deixar as minhas experiências se transformarem num “arquivo-morto”!

(Danillo Barros)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Silencia



Silencia.
Ouve tua respiração.
Ouve teu coração palpitar.
Ouve tua alma.
Há tanta coisa que não prestas atenção.

Sempre condicionado a olhar para o que está do lado de fora,
O que é palpável, visível, mensurável.
E esqueces da vida que se renova dentro de ti,
A cada inspiração,
A cada batimento do teu coração.

Tua alma tem sede,
Teu espírito tem fome.
Alimenta-os com o silêncio, com a poesia,
Com a percepção do espaço ao teu redor,
Com a beleza que os olhos não enxergam.

O maná que resplandece da natureza se manifesta à tua frente
Mas só é percebível ao silêncio interior.
Quietude.
Plenitude.
Descobre-te em teu silêncio.
Encontra-te em teu vazio.
Vazio cheio de vida, cheio de sons, formas e cores.
Teu vazio é teu.
A descoberta é tua.
Silencia, e escuta-te.

(Danillo Barros)


Tempo

Já passa da hora de me deitar, as obrigações da faculdade consomem meu tempo, e eu estou aqui com os livros abertos sobre a escrivaninha. O tempo voa, e voa rápido. Penso até quando ele vai voar com tamanha ligeireza, sem me permitir refestelar numa poltrona qualquer, tomando uma cervejinha e observando com calma o nada passar. Que inveja daqueles senhores e senhoras dos filmes antigos, proseando na varanda, conversando com os amigos, flertando com olhares por sobre os muros... Era tudo muito romântico. Hoje não somos nós quem controlamos o tempo, é ele quem nos controla. Parece que tudo virou de ponta-cabeça. Pensamos muito no futuro.. mas e o agora? De que vale todo meu esforço se eu morrer daqui a alguns anos, alguns meses, algumas semanas, amanhã? Que cumpramos nossas obrigações para podermos sobreviver, não vivamos para elas. Saibamos aproveitar nossos momentos; há tempo de colher e tempo de plantar. Quanto a mim, espero sempre conservar pelo menos um pouco desse romantismo sobre o tempo, sem pensar na efemeridade da vida como um problema, mas como uma oportunidade a mais para ser feliz.

Agora, com licença. Volto-me de novo aos livros... e tomo mais uma xícara de café.

(Danillo Barros)

domingo, 14 de março de 2010

Ao Vazio



Saio de casa, sigo as luzes, mas só vejo a escuridão. Pessoas sem rosto caminham à minha volta. Ouço risos, alguns soam como de alegria, outros, de sarcasmo. Mas eu não rio. Sinto-me inexpressivo. A angústia vem da alma. Toma conta do meu corpo. E reflete para o vazio moral que me cerca.

Estou aqui, andando sem rumo. Nada mais resta. A noite é fria. O que é certo fazer? Onde está sua mão para esquentar a minha? Ou seu lábio para aquecer os meus? Por que você não vem e me arranca da penumbra onde definha meu coração?

Na esquina, o velho vendedor de flores, já meu conhecido. Foram tantas a s vezes que te comprei rosas... suas favoritas. Agora elas já estão murchas. Na verdade, estavam mesmo antes de você me devolver as chaves do apartamento. Pensei que você cuidasse delas com carinho, mas as flores nem mesmo chegaram a ver a luz do sol que clareava a varanda. A clara luz dissipou-se. A névoa embaça minha vista. Antes fosse seu calor. Ao contrário, a neblina gela a espinha. Minha vista se turva, meu coração entorpece.

Procuro um lugar para me abandonar. Onde está seu colo para eu me deitar? Cadê sua pele, seu toque, para me reconfortar? Por que você não vem e recria aquele estado de felicidade que nos habituamos a compartilhar?

Minhas perguntas vão para o vazio. Ele não me responde.

Nem você.

(Danillo Barros)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Recomeçando...

O Cafetinando está de cara nova!
Contrariando aos que dizem que o ano só começa depois do carnaval, resolvemos adiantar o fim das férias para saciar o desejo por cafeína dos nossos queridos  inúmeros(?) leitores. Se Gabi e Galeno resolverem, finalmente, me ajudar com as postagens, talvez esse blog passe a ser atualizado com maior frequencia, já que, nesse ano, o meu tempo vai ser apertado (sim, deixei de ser vagabundo e arrumei um estágio!!). Fica o recado para os dois (afinal, o blog é deles também).
Obrigado aos amigos pela força em 2009!