quinta-feira, 13 de maio de 2010

Arquivos




Certa vez, quando era pequeno, resolvi fazer uma espécie de “mapa” do meu cérebro. Para mim, a mente era como um grande arquivo, cheio de gavetas abarrotadas de papéis contendo muitas e muitas informações. Na época, resolvi separar essa papelada em seções, organizadas de acordo com as atividades que eu precisava realizar (mas as tarefas infantis eram simples: fazer o dever de casa, jogar videogame, arrumar o quarto de vez em quando, jogar bola com os amigos). Dificuldade alguma, não é mesmo?

Hoje percebo que as coisas não são tão simples e que a nossa mente não pode ser tão facilmente organizada (só enquanto bato este texto no computador, mil pensamentos pululam na minha cabeça!). Quem dera ainda ter um olhar infantil sobre o mundo, acreditar em tudo que me diziam e não saber de nada... Infelizmente, não é assim que acontece. À medida que fico mais velho (tudo bem, “velho” é hipérbole), aumentam minhas experiências, sonhos e idéias malucas. E aquelas poucas folhas escritas (a maioria ainda em branco) vão se transformando em tantas que, quando olho, nem sei mais em que gaveta enfiar. Preciso de tempo e de paciência para pôr tudo no seu devido lugar, organizar meus pensamentos...

Colocar no lugar? Mas pra quê? Não vai ter ninguém vendo mesmo... Entretanto, talvez seja bom dar uma revisada em tanta informação, analisar os pontos positivos e negativos da minha vida.

Começo, então, a remexer nas minhas gavetas (as que consigo alcançar, pois algumas devem estar tão inacessíveis que apenas meu inconsciente será capaz de atingir). Vou abrindo-as, vou revivendo minha história, apenas minha, única, pois sei que ninguém é capaz de viver por mim, de controlar minha imaginação, de falar por mim! Eis que, conforme avanço nas profundezas do meu cérebro, lembro de que nem tudo são flores. Abri gavetas que não gostaria de ter aberto; outras, tento, em vão, fechar. Algumas eu nem recordava que estavam lá e, caramba... uma surpresa agradável, uma lembrança boa!

Talvez eu precise da ajuda de meus amigos ou de minha família para abrir, fechar ou procurar determinadas gavetas. De qualquer forma, é sempre bom ter alguém com quem se possa contar. Apesar de saber que sou o protagonista da minha vida, não posso construí-la sozinho.

Minha mente fervilha de pensamentos. Como já disse, não é fácil pôr tudo em ordem. Às vezes, o momento pelo qual passo parece formar um furacão que tenta acabar com qualquer possibilidade de organizar meu arquivo. Tantos papéis espalhados, uma confusão...

Como dizem, “após a tempestade vem a bonança”. Tenho mais uma oportunidade de colocar minhas idéias no lugar. Não vou reclamar de ter todo esse trabalho de novo. Pensando bem, que graça teria minha vida se tudo fosse uma utopia, se meus arquivos estivessem sempre em ordem? Que lugar teriam as emoções na minha alma? O que me ajudaria a crescer, a tornar-me mais forte, a sorrir quando os outros sentem prazer em assistir minha lamentação?

Minhas preocupações de criança já se foram, minha jornada sem volta para o mundo real já começou. O que fazer então? Agradeço a Deus pela oportunidade de continuar. Melhor se arriscar na aventura do viver do que ver meu corpo num caixão sendo devorado pelos vermes da terra. Que bom que bagunço minhas gavetas! Que bom ter a chance de rever tudo pelo que já passei, de procurar aprender com meus erros, de me descobrir, de inventar maneiras de ser mais feliz, enfim... de não deixar as minhas experiências se transformarem num “arquivo-morto”!

(Danillo Barros)

5 comentários:

  1. Puts, pela primeira vez em 29 anos, alguém pensa exatamente como eu... Sempre penso no arquivo e as gavetas abarrotadas, com pedaços de papel saindo pelos lados... ahuahuha
    Idêntico, sempre q contava para alguém q é assim q vejo meu cérebro, me chamavam de doidinha... hauhauha
    Em fim não estou só. rsrsrs

    Juliana Dellatorre

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  2. Cara, todos nós estamos pensando a mesma coisa... todo mundo deu de escrever sobre infância e vida. Amei o texto! Tb fico feliz quando encontro uma surpresa nas minhas gavetas... Meio forte esse negócio de "devorado por vermes da terra", hein? mas pelo menos vc está organizando suas gavetas mais rápido que eu! acho que ainda tenho milhares por aki... Beijoss!!

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  3. Muito bom o texto!! Gostei da comparação da mente com vários arquivos. Vc tocou em um ponto muito interessante: "Algumas eu nem recordava que estavam lá e, caramba... uma surpresa agradável, uma lembrança boa!". Nada melhor de recordar, olhar parta trás e as vezes rir de vc mesmo, até mesmo sozinho de um fato engraçado, de coisas sem noção que fazia, ou de algum mico eheheh! Isso é uma das melhores coisas, tão importante como saber viver o presente é também olhar para o passado e saber que possui momentos que valeram a pena viver!

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