sexta-feira, 26 de março de 2010

Silencia



Silencia.
Ouve tua respiração.
Ouve teu coração palpitar.
Ouve tua alma.
Há tanta coisa que não prestas atenção.

Sempre condicionado a olhar para o que está do lado de fora,
O que é palpável, visível, mensurável.
E esqueces da vida que se renova dentro de ti,
A cada inspiração,
A cada batimento do teu coração.

Tua alma tem sede,
Teu espírito tem fome.
Alimenta-os com o silêncio, com a poesia,
Com a percepção do espaço ao teu redor,
Com a beleza que os olhos não enxergam.

O maná que resplandece da natureza se manifesta à tua frente
Mas só é percebível ao silêncio interior.
Quietude.
Plenitude.
Descobre-te em teu silêncio.
Encontra-te em teu vazio.
Vazio cheio de vida, cheio de sons, formas e cores.
Teu vazio é teu.
A descoberta é tua.
Silencia, e escuta-te.

(Danillo Barros)


Tempo

Já passa da hora de me deitar, as obrigações da faculdade consomem meu tempo, e eu estou aqui com os livros abertos sobre a escrivaninha. O tempo voa, e voa rápido. Penso até quando ele vai voar com tamanha ligeireza, sem me permitir refestelar numa poltrona qualquer, tomando uma cervejinha e observando com calma o nada passar. Que inveja daqueles senhores e senhoras dos filmes antigos, proseando na varanda, conversando com os amigos, flertando com olhares por sobre os muros... Era tudo muito romântico. Hoje não somos nós quem controlamos o tempo, é ele quem nos controla. Parece que tudo virou de ponta-cabeça. Pensamos muito no futuro.. mas e o agora? De que vale todo meu esforço se eu morrer daqui a alguns anos, alguns meses, algumas semanas, amanhã? Que cumpramos nossas obrigações para podermos sobreviver, não vivamos para elas. Saibamos aproveitar nossos momentos; há tempo de colher e tempo de plantar. Quanto a mim, espero sempre conservar pelo menos um pouco desse romantismo sobre o tempo, sem pensar na efemeridade da vida como um problema, mas como uma oportunidade a mais para ser feliz.

Agora, com licença. Volto-me de novo aos livros... e tomo mais uma xícara de café.

(Danillo Barros)

domingo, 14 de março de 2010

Ao Vazio



Saio de casa, sigo as luzes, mas só vejo a escuridão. Pessoas sem rosto caminham à minha volta. Ouço risos, alguns soam como de alegria, outros, de sarcasmo. Mas eu não rio. Sinto-me inexpressivo. A angústia vem da alma. Toma conta do meu corpo. E reflete para o vazio moral que me cerca.

Estou aqui, andando sem rumo. Nada mais resta. A noite é fria. O que é certo fazer? Onde está sua mão para esquentar a minha? Ou seu lábio para aquecer os meus? Por que você não vem e me arranca da penumbra onde definha meu coração?

Na esquina, o velho vendedor de flores, já meu conhecido. Foram tantas a s vezes que te comprei rosas... suas favoritas. Agora elas já estão murchas. Na verdade, estavam mesmo antes de você me devolver as chaves do apartamento. Pensei que você cuidasse delas com carinho, mas as flores nem mesmo chegaram a ver a luz do sol que clareava a varanda. A clara luz dissipou-se. A névoa embaça minha vista. Antes fosse seu calor. Ao contrário, a neblina gela a espinha. Minha vista se turva, meu coração entorpece.

Procuro um lugar para me abandonar. Onde está seu colo para eu me deitar? Cadê sua pele, seu toque, para me reconfortar? Por que você não vem e recria aquele estado de felicidade que nos habituamos a compartilhar?

Minhas perguntas vão para o vazio. Ele não me responde.

Nem você.

(Danillo Barros)